A China é aqui


Nos EUA, são vendidos hoje cinco vezes menos imóveis do que há quatro anos. No Brasil, é impossível ir a uma cidade e não encontrar um mar de canteiros de obras


Há mais de 30 anos, a China cresce a um ritmo de quase 10% ao ano, causando inveja e alterando toda a ordem econômica global.


No Brasil, a crescente importância da economia chinesa é visível a olhos nus. Examine os produtos à sua volta neste exato momento e encontrará as inevitáveis etiquetas de made in China. Desde 1999, a corrente de comércio – soma de exportações e importações – entre Brasil e China saltou de US$ 1,5 bilhão para mais de US$ 55 bilhões.


De carona na fome chinesa por nossas matérias-primas e na sua oferta abundante de capitais baratos para financiar investimentos e consumo no País, o Brasil dobrou seu ritmo de crescimento nos últimos sete anos para cerca de 5% ao ano. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm sustentado taxas de expansão bem maiores. Vários setores, em particular o imobiliário, o automotivo e o agronegócio crescem em ritmo de dar inveja até aos chineses.


Este crescimento acelerado colocou o Brasil em posição de destaque. Na última década, o País passou de quinto a segundo maior exportador do agronegócio no mundo, multiplicando por seis o superávit comercial do setor, passando de US$ dez bilhões a mais de US$ 60 bilhões. O crescimento do interior do País não deixa nada a dever ao dragão asiático.


No setor automotivo, a história não é diferente. De 2003 para cá, as vendas de automóveis no País aumentaram quase 150% – sustentando uma média anual de crescimento de quase 14% –, passando de 1,4 milhão a 3,5 milhões de unidades. O Brasil pulou de oitavo para quinto maior mercado de automóveis no planeta. Se o crescimento continuar parecido até a Copa do Mundo, teremos o terceiro mercado mundial de automóveis. Ainda assim, o número de automóveis por habitante no Brasil será três vezes menor do que nos EUA.
Quem você acha que continuará crescendo?


A importância do Brasil para as montadoras é também cada vez maior. Há anos, a Fiat já vende mais automóveis aqui do que na Itália. Talvez ainda neste ano, a Volkswagen venda mais automóveis no Brasil do que na Alemanha. Para a GM, o Brasil já é o terceiro mercado consumidor. Aliás, o primeiro é a China – que você achava ser o país da bicicleta – onde a venda de automóveis era 1/10 da dos EUA há dez anos, mas há dois anos tem superado o tradicional país do automóvel.


A mesma coisa acontece no setor imobiliário. Enquanto a contração nos mercados americano, europeu e japonês parece não ter fim, o mercado brasileiro vive o melhor momento da história. Nos EUA, são vendidos hoje menos imóveis do que há 50 anos, cinco vezes menos do que há quatro anos. No Brasil, é impossível ir a uma cidade e não encontrar um mar de canteiros de obras. A alta de preços dos imóveis ao longo dos últimos anos foi causada pela abundante oferta de crédito e consequente multiplicação dos compradores.


Aliás, é a expansão de crédito e renda nos países emergentes, onde o endividamento ainda é baixo, que deve manter esse quadro inalterado na próxima década, apesar de inevitáveis solavancos ao longo do caminho.


Você anda preocupado com as recentes manchetes comparando a alta de preços de imóveis no Brasil com a bolha imobiliária americana? Saiba que o crédito bancário ao setor imobiliário no Brasil não chega a 4% do PIB, 30 vezes menor do que nos EUA e 45 vezes menor do que na Suíça. Durma tranquilo em seu apartamento novo.


Ricardo Amorim
Ricardo Amorim é economista, apresentador do "Manhattan Connection" (Globo News) e presidente da Ricam Consultoria (www.ricamconsultoria.com.br)

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