No fim dos anos 90, Tim McCanlies, roteirista de O Gigante de Ferro, levou para a Warner Bros. uma grande ideia: uma série de TV que mostraria a adolescência e o treinamento de um jovem que se tornaria um dos maiores super-heróis de todos os tempos: Bruce Wayne. A ideia superinteressante mas esbarrou em um problema: Joel Schumacher havia estragado o Batman nos cinemas (lembra-se de Batman e Robin e Batman Forever?) e o projeto foi parar no fundo da gaveta.
Mas a ideia de contar a adolescência de um super-herói era muito legal para ser desperdiçada, e foi usada para dar fôlego ao maior super-herói de todos os tempos e que precisava de um fôlego fora das histórias em quadrinhos: o Superman.
Então, com a supervisão de Alfred Gough e Miles Millar surgiu Smallville, uma mistura de Buffy, a Caça-Vampiros, com Dawson's Creek e muitas referências às histórias em quadrinhos. O episódio piloto estreou em 2001 e apresentando um Clark Kent com 15 anos de idade, inseguro e invulnerával, em busca de seu lugar no mundo, e sem a sunga vermelha por cima da calça colante. A história seria uma versão que contaria o que aconteceu com Clark Kent no filme Superman, de Richard Donner (um dos melhores filmes de super-heróis na minha opinião), da adolescência em Smallville até se tornar o grande protetor da Terra.
Na primeira temporada, fomos apresentados a um Clark Kent inseguro, às voltas com as descobertas de novos poderes, seus hormônios à flor da pele, sua paixão platônica por Lana Lang, seus amigos do colegial Chloe Sullivan e Pete Ross, seus pais superbacanas (quem não gostaria de ter pais como os Kents?) e seu grande amigo que se tornaria seu maior inimigo Lex Luthor. Eu me deliciava à espera de cada episódio, e na época jamais imaginaria que a série duraria 10 temporadas e teria um total de 217 episódios, se tornando a série mais longeva sobre um super-herói.
217 episódios... Alguns controversos, é verdade, mas que série é capaz de ter tantos episódios sem se comprometer na qualidade do roteiro em alguns momentos? Em alguns desses episódios era claro a falta de orçamento para fazer um efeito especial melhor ou a obrigação de criar um freak week, monstro da semana, para preencher o episódio. De repente, a kryptonita dava poderes, dos mais interessantes aos mais bizarros, para todos que topassem com ela; uma ideia legal que depois de muito usada se desgastou. Além disso, Clark enfrentou bruxas, vampiros e vários kryptonianos (não era para ele ser o último?).
O importante é que, em meio a situações que beiravam o absurdo, Smallville nos mostrou o amadurecimento de Clark Kent, a descoberta de sua herança kryptoniana e o início de sua vida adulta em Metrópolis. Durante essa jornada, seu arqui-inimigo, Lex Luthor, foi derrotado. Seu pai adotivo, Jonathan Kent, morreu de causas naturais. Amigos chegaram e partiram, e seu coração, que sempre fora de Lana Lang, acabou entregue à Lois Lane, que nessa versão da lenda já sabia do segredo do amado muito antes de ele vestir sua capa vermelha.
Não faltaram homenagens às encarnações anteriores do herói. A começar por Christopher Reeve, numa participação emocionante no episódio “Rosetta”, repetida em mais duas ocasiões. Maggot Kidder (a Lois Lane dos filmes de Richard Donner), Dean Cain e Teri Hatcher (de Lois & Clark) e até Helen Slater (a Supergirl do filme de 1984) também deram o ar da graça como Lara, a mãe kryptoniana de Kal-El, e Terence Stamp, o antigo General Zod dos filmes de Richard Donner, que dublou de maneira muito competente o novo Jor-El, pai biológico de Clark.
E os crossover com outros personagens? Entre os heróis e vilões convidados, podemos destacar a Liga da Justiça e Sociedade da Justiça, a Legião dos Super-Heróis, Gladiador Dourado e Besouro Azul, a Legião do Mal e até mesmo o vilão Apocalypse, que matou o herói nos quadrinhos.
No auge de sua popularidade, Smallville gerou ainda duas tentativas de séries de super-heróis. Em 2002, Birds of Prey mostrava a filha do Batman junto a Oráculo e Canário Negro combatendo o crime numa Gotham City baseada no mesmo universo de Smallville. Apesar da boa audiência inicial, a série desandou e não passou de 13 episódios. Em 2005 veio Aquaman, que pode ter naufragado ainda no piloto, mas garantiu ao seu protagonista, Justin Hartley, o papel de Arqueiro Verde em Smallville.
Ao anunciar que a décima temporada seria a última, culminando na transformação de Clark em Superman, os produtores e roteiristas puderam finalmente posicionar as peças em seu esburacado tabuleiro. Pontas soltas foram amarradas e o grande vilão Lex Luthor voltou à vida numa trama típica dos quadrinhos, aliado à ameaça cósmica de Darkseid e seu planeta Apokolips.
Apesar do episódio final emocionante - que teve cena de voo, trilha sonora de John Williams e diversas cenas em homenagem ao filme de 1978 - o clímax foi frustrado pelo orçamento apertado da série. Depois de esperar 10 anos para ver Tom Welling com o icônico uniforme azul, os fãs tiveram que se contentar com tomadas distantes, um modelo em computação gráfica e closes no rosto do ator, que nunca chegou a colocar a sunga por cima da calça.
Assim como a vida do Superman nos quadrinhos, Smallville teve altos e baixos, e acabou perdendo dois terços de seus 8 milhões de expectadores ao longo do caminho. Mas, ao final, cumpriu bem seu papel em manter viva a mitologia do último - ou ao menos, mais famoso - kryptoniano, e nos manter acreditando que um homem pode voar e que podemos acreditar em heróis.
0 Comentários