Crônica - Chance Zero


"- Caraca!"

Foi assim que ele levantou correndo ao perceber que estava atrasado para o trabalho. Eram 7h18 e ele prometera a si mesmo que as 6h00 estaria de pé. Pulou da cama, tirou o pijama, correu pro banheiro, entrou no chuveiro, jogou xampu no cabelo, enxaguou o corpo, esfrega aqui, esfrega ali, pega a escova e faz a profilaxia dentária ali mesmo no chuveiro, sai da ducha e se enxuga, para em frente ao espelho e vê que a barba por fazer não comprometeria, joga um creme de pentear nos cabelos, veste a primeira camisa, a primeira cueca e a primeira calça que vê na frente, veste as meias, calça os tênis, pronto. 7h29. Ainda dava tempo de chegar no serviço antes das 8h00.

Durante o trânsito infernal da manhã, se encara no retrovisor, vê as olheiras, o cabelo um pouco desalinhado, passa a língua nos dentes e percebe, que na pressa, não usou anti-séptico bucal. Procurou uma pastilha no console do carro e encontrou a última. Ufa! Menta. Ainda bem. Mas não precisaria se preocupar. Afinal, qual a chance de vê-la naquele dia? Praticamente zero. Depois do trabalho, ele iria para a faculdade e ela já estava de férias, mas ele tinha prova e só chegaria em casa depois das 23h00. O dia ia ser longo. Por isso seria quase zero a chance de os dois se encontrarem. Finalmente chegou ao trabalho. Eram 7h58. Ainda era tempo de passar em frente ao chefe antes das 8h00. 

O dia foi transcorrendo, respondeu os e-mails, criou algumas planilhas, preparou uma apresentação. 11h24. O telefone toca. Era ela. Atendeu. Ela acaba de ser desligada da empresa e em prantos conta para ele o ocorrido. Ele sem pestanejar:

"- Vou te buscar."

"- Não precisa. Meu pai já vem."

"- A gente vai almoçar."

"- Não vou te atrapalhar?"

"- Jamais me atrapalha."

"- Mesmo."

"- Sim. Nunca. Você me liga quando chegar em casa?"

"- Tá bom."

"- Beijos."

"- Beijos."

A chance era praticamente zero de vê-la naquele dia. Mas o destino de repente resolve agir e mexe com todas as probabilidades. E assim, mesmo não estando na sua melhor aparência, eles vão se encontrar. Ele pega as chaves, entra no carro, encara novamente o trânsito e parte para a primeira farmácia com seu pensamento fixo:

"- Gel e anti-séptico. Gel e anti-séptico. Gel e anti-séptico."

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