"- Pra mim chega!"
Ele, deitado no sofá enquanto assistia televisão, virou perplexo para ela.
"- Como assim?"
Ela não acreditava na pergunta dele. Primeiro ele sumiu o sábado o dia todo. Nem ao menos atendia o celular. Depois ele apareceu no domingo na casa dela e ficou o dia todo no sofá. O namoro já não era o mesmo há algum tempo. Esfriou a tal ponto que parecia os dias de inverno em Campos do Jordão. Como tinha chegado a esse ponto?
O começo foi mil maravilhas. Flores. Bombons. Jantares. Cinema. E os beijos? Roubados. Apaixonados. Estalados. Com o passar do tempo ela descobriu que aquele começo mágico era um jeito que ele usou para impressioná-la. Ele não era daquele jeito. Com o passar do tempo, as flores sumiram. Os jantares escassearam. Cinema só quando ela comprava os ingressos. Beijos viraram selinhos. O homem por quem ela tinha se apaixonado já não mais existia, ou melhor, ela tinha dúvidas se algum dia existiu.
"- Não desisti de você, mas me cansei. Acho melhor a gente dar um tempo..."
"- Como assim?"
Ela era teimosa. Tinha aquela coisa de ir até o final, sabe, pagar pra ver, esgotar as possibilidades. E pagou caro. Pelas suas contas, já não compensava mais. Sua irmã mais nova começou a namorar depois deles e já estava noiva e vendo um financiamento imobiliário. E eles? Um namoro pálido, sem perspectivas claras no futuro, sem planos de longo prazo. Nunca falaram de noivado ou casamento.
"- Dar um tempo. Ver o que você quer da vida. Se me quer na sua vida. Ou se isso que a gente tem é vida."
"- Como assim?"
Talvez ele não tivesse culpa. Talvez ela fosse sonhadora. Mas que mulher não é? Queria casar com um cara bacana, ter um bom emprego, construir uma família, um lar, viajar. Precisava reacender seus sonhos. Não deixá-los desaparecer deitados em um sofá velho em pleno domingo.
"- Vida! Eu quero realizar meus sonhos... Ah, deixa quieto. Você não vai entender. Se quiser pode ficar aí deitado... Pode terminar de ver sua televisão, acabe com mais um domingo, mas não precisa nunca mais acabar com os meus."
"- Como assim?"
"- Ah, e quando terminar, desliga tudo e fecha a porta. Vou virar mais uma página da minha história. Você é um cara legal. Vou ali me arrumar, beber um pouco de amor próprio e sair. Arejar a cabeça. Minha vida tem que ser maior do que isso..."
"- Tudo bem. Vou embora. Você anda meio estranha. Me liga quando voltar?"
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