“- Então a gente está terminando?”
Com uma afirmativa de Gustavo, Jaqueline viu que seu namoro meteórico
tinha terminado. Começou intenso, quando nas férias na montanha ela o conheceu.
Depois de ficarem juntos, em duas semanas oficializaram o namoro. E agora, seis
meses depois, tudo tinha se encerrado. Muitas coisas boas aconteceram, muitas
coisas ela descobriu como casal, depois de uma relação morna do namoro
anterior. Agora ela estava só.
Em pouco tempo, os amigos passaram a lhe acolher,
chamaram-na para sair e se divertir, mas seu coração estava ainda aos cacos e
seu mundo com muito menos cor. Jaqueline sentia falta de Gustavo, dos seus
carinhos, do seu sorriso, mesmo sabendo que a relação não tinha como dar certo.
Coisas do coração que a razão não consegue superar. As lágrimas caíam quando ao
anoitecer em seu quarto vinham as dúvidas:
“- E se eu tivesse contado tudo?”
“- Deveria ter terminado a amizade com Ariel.”
“- Por que eu não fiz o que ele me mandou fazer?”
Essas e outras dúvidas que lhe faziam companhia antes do
sono, acabavam por passar uma sensação de que Jaqueline estava em dívida com
Gustavo, como se o sucesso do namoro deles não deu certo por culpa exclusiva
dela. Jaqueline adormecia, tinha sonhos nem sempre tão bons e a tristeza
acompanhava-a, dia após dia. As dúvidas alimentavam as dívidas e estas
alimentavam novas dúvidas.
Com o tempo as lágrimas escassearam, retomou a amizade com
Ariel e um sorriso passou a ser esboçado em seus lábios. Ariel era aquele tipo
de amigo superfranco, que se gostasse de alguém ele deixava bem claro, dava
conselhos cirurgicamente diretos, além de ser super engraçado, e passou a contar
para Jaqueline coisas da sua vida, das diversões, do que chegou a fazer
enquanto ela esteve afastada dele por causa do namoro. Ariel levava a vida com
leveza, nunca deixava Jaqueline de escanteio, sempre colocando-a como uma parte
importante de sua vida.
“- Jaque, tem um churrasco da galera da faculdade no próximo
domingo e você vai comigo, beleza?”
“- Ariel, não sei se eu seria uma boa companhia.”
“- Jaque, você sempre é!”
“- Não vou te atrapalhar?”
“- Nunca, Jaque! Você nunca me atrapalha!”
E Jaqueline embarcava nas travessuras de Ariel e se
divertia. Churrascos, baladas, barezinhos, aulas de dança. Ariel preenchia
parte do vazio que Gustavo deixou na vida de Jaqueline, inclusive colocando
novas cores. Nada de rotina, a vida era uma eterna aventura para Ariel.
Um dia, o inevitável aconteceu, Jaqueline e Ariel se
beijaram. O beijo encaixou como nunca antes Jaqueline tivera experimentado. Mas
um breve momento depois, Jaqueline se afastou.
“- A gente não pode fazer isso, Ariel.”
“- E por que não?”
“- Porque somos amigos.”
“- Somos mais do que amigos. Somos duas pessoas que gostam muito
da companhia um do outro.”
“- Mas eu não posso continuar com isso, Ariel. O Gustavo
ainda vive dentro de mim...”
“- Eu sei, Jaque. Para você essa história ainda não
encerrou. Mas não vou apressá-la. Um dia você vai deixar o passado aonde ele
deve continuar para sempre: o passado.”
“- Mas não é fácil, Ariel. Tente me entender. Eu ainda acho que
posso me acertar com o Gustavo. Eu errei muito no meu namoro.”
“- Jaque, você não deve nada para o Gustavo. Se você sabe
que era areia demais para o caminhãozinho dele. E sabe o que eu acho? Você está
com o orgulho ferido. Sabia que não ia dar certo, mas não foi você quem
encerrou a história. Foi ele. Aí fica se martirizando.”
“- Pode ser...”
“- Mas você tem razão. A gente não devia ter feito isso. Não
posso seguir adiante e te oferecer todo
o calor do Sol se você ainda tem uma brasinha do passado dentro de você.”
“- Ariel, eu gosto muito de você. Você sabe disso.”
“- Eu também. Mas não sei se eu for só seu amigo me basta
mais...”
“- Ariel, você é importante na minha vida. Não fala assim.”
“- Bom, você tem que resolver as pendências com o seu
passado. Mas acho que não posso mais continuar te encontrando.”
“- Por quê?”
“- Porque você tem que resolver isso sozinha.”
“- Ariel...”
“- E quando estiver acertado as contas com seu passado, a
gente conversa. Cansei de ouvir você falar Gustavo isso, Gustavo aquilo.
Cansei. Desculpa o desabafo.”
“- Tá bom. Se você vê assim.”
Se despediram. Para Jaqueline foi como um novo término de
relacionamento. Para Ariel foi como um novo recomeço. Jaqueline voltou a
encerrar as noites pensando em Gustavo. Ariel voltou a viver longe das sombras
de alguém que ele tinha certeza de que nunca seria 10% dele. Jaqueline perdeu
as cores e o vazio aumentou. Ariel partiu em busca de sua felicidade.
* * * * * * * * * *
Um mês se passou. Jaqueline ainda pensava em Gustavo, que
agora já tinha uma nova namorada. E as dúvidas só aumentavam:
“- Como ele já pode ter começado a namorar outra?”
“- Eu não era o amor da vida dele?”
“- E toda aquela paixão que a gente sentia? Foi parar aonde?”
Jaqueline resolveu ligar para Ariel, que atendeu depois de
seis toques. Se cumprimentaram meio que sem graça, mas iniciaram uma conversa.
Lá pelo terceiro minuto, Ariel puxou assunto:
“- E você, Jaque? Já se resolveu?”
“- Ariel... Ainda não sei... E você? Como anda o coração?”
“- Em vias de me apaixonar. Você vai gostar dela. É super
gente fina! E linda!”
“- Hmmm... Legal.”
“- Sim. Bom, vou lá pra casa dela. E que bom que a gente não
foi adiante, né? Poderia não ter encontrado uma das grandes chances de
felicidade de minha vida.”
“- Se você diz...”
“- Beijos, Jaque. Liga outras vezes. Vou lá ser feliz. Até
mais.”
E Jaqueline segurou o celular, deitou-se em sua cama
abraçada com ele e falou baixinho consigo mesma:
“- Eu também queria ir lá e ser feliz...”
E adormeceu, pensando em suas dúvidas e em sua dívidas.
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