Era uma manhã de sol tênue, típica de outono na minha cidade e eu estava indo para o meu trabalho. Tinha acabado de chegar ao centro da cidade e fui até o ponto de ônibus da avenida central. Enquanto prestava atenção nos ônibus que passavam, sinto um toque leve em meu ombro.
"- Moço, bom dia... Pode me dar uma informação?"
Era uma menina de não mais do que 14 anos, linda como aquela manhã de outono. Com certeza em alguns anos teria uma fila de pretendentes. Ela tinha cabelos escuros, seus olhos eram de um castanho claro radiante. Estava com uma mochila nas costas, talvez estivesse indo para a escola. Como sempre fui um sujeito de respeito, sorri e respondi.
"- Bom dia! Claro."
"- Então, como eu chego no Jaguara Mall?"
"- Ah, estou indo pra lá!"
"- Mesmo? Legal!"
Ela vira para o lado onde sua mãe está sentada.
"- Mãe, ele vai pra lá!"
A mãe se levanta, dirige-se pra mim:
"- É que estou um pouco atrasada. Você vai lá para perto?"
"- Sim! Trabalho em frente."
"- Você mostra pra minha filha então aonde ela tem que descer?"
"- Sem problemas."
Em alguns minutos o ônibus encosta, eu e a menina nos encaminhamos para entrar no ônibus. A mãe dela fica no ponto e depois de se despedir da filha, fala pra mim:
"- É que ela nunca andou de ônibus sozinha..."
A menina fica inconformada:
"- Mãe! Pára! Já sou grande!"
Eu respondo à mãe atenciosa:
"- Tudo bem. Eu mostro certinho para ela."
"- Obrigada! E filha, toma cuidado ao atravessar a rua!"
"- Tá bom, mãe!"
Ela fica próxima de mim, nos olhamos e sorrimos um para o outro. Não trocamos muitas palavras. Ao chegar próximo do ponto de ônibus, eu aviso para ela.
"- É o próximo ponto."
"- Tá bom!"
Descemos no ponto de ônibus juntos. Ela me dá um beijo no rosto.
"- Obrigado, moço. Tenha um ótimo dia."
"- Obrigado. Você também."
Não perguntei aonde ela ia, nem a vi mais por muito tempo. Por toda a primeira década do século 21.
* * * * * * * * * *
Tinha conhecido uma garota bacana e começamos a sair. Era a terceira vez que nos encontrávamos. O verão tinha acabado, as noites começavam a esfriar. Fui buscá-la em sua casa. Como tínhamos combinado, dei um toque em seu celular quando estivesse perto de sua casa. Faltava menos de dois quarteirões quando dei um toque.
Ao chegar em frente a casa dela, ela imediatamente sai do portão e entra no meu carro. Sua mãe nos chama de dentro da casa:
"- Espera um pouco filha! Deixa eu conhecer ele!"
Ela sussurra pra mim:
"- Ah... Minha mãe me trata como se eu tivesse 14 anos ainda... Não liga não..."
"- Sem problemas."
A mãe sai:
"- Oi! Tudo bem? Prazer, Sueli! A gente já não se conhece?"
Imediatamente reconheço a mãe que estava no ponto de ônibus naquela manhã de outono, sorrio, olho para minha garota e todos os seus traços da menina, agora mulher, me retornam a memória, volto a olhar para a mãe dela e respondo.
"- Oi Sueli! Talvez sim... O mundo é pequeno, né? E meu rosto é bem comum..."
"- Pode ser... Bom, boa diversão para vocês dois... Vão voltar tarde?"
Minha garota não aguenta e responde:
"- Mãe! Pára! Já sou grande!"
"- Ah, filha, só perguntei..."
"- Pode ir dormir... Já tenho a chave..."
"- Tá bom... Cuidado na rua, tá bom?"
"- Ok, Sueli."
"- Tá bom, mãe!"
E partimos para o nosso encontro. Será que minha garota sabia o tempo todo? Não soube por mais algum tempo. Não importava. Engraçado, esse destino. Só sei que meus outonos nunca mais foram os mesmos. Nunca mais.
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