Em pouco tempo se tornaram melhores amigos. Adoravam sair, se ver, se divertir, tirarem fotos.
Até que um dia o beijo aconteceu. Ardente, quente, plenamente correspondido. E eles se enrolaram. Rolou o primeiro amasso em público, a primeira viagem, os papos se tornaram diários, mensagens sem fim, conheceram ambas as famílias. No começo ficou estabelecido que seriam amigos, amigos enrolados, que se curtiam e ficavam. Se achavam os moderninhos da turma. A mãe dela perguntava o que rolava. A mãe dele fingia que nada acontecia. O pai dela torcia para que dessem certo. Ela temia que se machucasse mais uma vez. Ele dizia que não temia nada. Mas temia. Temia perdê-la e queria algo mais. Uma noite em que saíram, depois da sessão do cinema, ao deixá-la em sua casa, confessou para ela que queria avançar um pouco mais aquela relação.
"- Você é muito importante para mim, para ser só uma ficante. Não sou um caminho que você passa até achar um namorado. Se for para não termos futuro, eu quero que a gente não se veja mais por uns meses."
Ela empalideceu. Ele arriscou tudo. Ela não esperava aquela conversa. Ele não sabia de onde veio aquela coragem toda. A conversa acabou. Se despediram. O beijo não foi o mesmo. Ele não poderia mais voltar atrás naquela decisão.
"- A gente se fala amanhã?"
"- Pode ser."
Ela entrou. Ele pensou consigo mesmo:
"- Será que fiz merda?"
Ele foi para casa e não dormiu naquela noite, girando para um lado e para o outro em sua cama, revivendo todas as cenas que passaram juntos. Chegou a hora em que tinha que levantar para ir ao trabalho, levantou, a cabeça doía, tomou um banho quente, fez a barba e olhava para o celular esperando pela primeira mensagem do dia, que sempre chegava por volta daquela hora. A mensagem não veio. Pensou em mandar uma. Achou melhor não. Foi para o trabalho, a manhã demorou uma eternidade para passar. De vez em quando pegava o celular e nada da mensagem dela.
"- Perdi ela."
Até que a tarde, depois do almoço, veio ela mandou uma mensagem:
"- Oi, sumido! Tudo bem?"
E ele respondeu como se não tivesse acontecido nada na noite anterior. Trocaram um monte de mensagens no restante do dia. Ele sentia falta dela. Ela sentia falta dele.
* * * * * * * * * *
Naquele final de semana se encontraram. Ele ouvia atentamente tudo o que ela falava, mas ainda o incomodava em não saber sobre o futuro. Ela então vendo sua expressão de interrogação, lhe disse:
"- Vamos deixar rolar. Sem pensar no futuro. Uma hora a gente se acerta. Ah, eu te amo muito, seu bobo."
Ele pensou, sorriu e momentaneamente aceitou. A vida deles era morango, suculento, dava água na boca, vermelhinho de amor. Não é curioso? Todos que os viam juntos, os enxergavam como morangos, imaginando seus desejos e suas doçuras. Mas um morango sem açúcar não é doce. O morango, esse grande brincalhão. A fruta que engana. E foram levando. Ela com seu temor de se machucar mais uma vez. E ele com a sua esperança de que era o primeiro capítulo de uma história eterna. Com sabor de morango.
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