Nosso filho, Gui


05 de dezembro de 2016. Segunda-feira.
“Amor, está doendo muito. Vamos pra maternidade!”
Eram perto das onze horas da manhã. Nosso bebê tinha sido “marcado” para nascer seis dias antes, quando tínhamos completado 41 semanas de gestação. Mas Tati, meu amor, pediu para “desmarcar” e esperar um pouco mais por achar que ainda não era a hora do Gui chegar. Agora, estávamos correndo para a maternidade de Campinas.
Chegamos lá, pegamos uma senha e somos atendidos. Pedem para esperarmos.
“Moça, a minha bolsa estourou!”
Tinha chegado a hora do Gui. Um aguaceiro só na recepção. Tati é levada para outro lugar. Eu fico mais perdido que surdo em bingo. Saio para fazer alguma coisa do prédio. Nem lembro mais o que. Volto, e para entrar, tem que cadastrar de novo. Pergunto pela Tati e me levam até ela e encontro-a com uma cara de dor que nunca tinha visto. Levam para a sala de parto. Saio de novo do prédio. Entro e me cadastro de novo. Já eram mais de duas da tarde. Vou até o segundo andar e fico no corredor com outros pais. Doutor Cássio, nosso obstetra, chega.
“Pronto, pai? O profissional chegou. Bora entrar?”
Entro, fico do lado da Tati, mas como sou alto, assisto todo o parto. Se não tiver sangue frio, não recomendo. Doutor Cássio com a equipe da maternidade fazem mais um parto com muita serenidade. Eu? Nervoso até o último fio de cabelo. Duas e quarenta da tarde, Gui nasceu. Olho para meu filho, tão pequeno, tão indefeso que meu corpo se entorpece com bilhões de moléculas hormonais, que não sabia se chorava, se ria.
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05 de dezembro de 2017. Terça-feira.
Um ano já se passou e só quem é pai pode ter uma dimensão tão diferente da vida, que tudo pode ganhar novos significados, intensidades, sentimentos. Um filho é a régua da existência, é a nossa largura, é o nosso comprimento, é o mundo que abraça mas que em outro momento também esmaga. O desemprego dói mais sendo pai. Um desaforo também. A risada e o choro são mais estridentes sendo pai. E os elogios são mais desconcertantes sendo pai.
Nesse um ano, que passou voando, o Gui mede o meu fim, as minhas realizações, minhas férias, meus dias de folga, de ira, de loucura, de sanidade. Mede meu sono, minha vontade de acordar, minha felicidade, meu salário, minha paciência.
Só quem é pai, sabe do que eu estou falando. O Gui me apresentou um tipo de amor que eu, em 40 anos, jamais tinha experimentado e até hoje me pergunto como vivi tanto tempo sem esse tipo de amor. Talvez fosse mais egoísta ou mais individualista, ou simplesmente nutria paixões e não o amor. Hoje isso não importa. O que importa é que o Gui nos trouxe uma aquarela de cores em uma vida em tons de cinza.
“Que sorriso lindo! Olha as covinhas!”
“É a cara do pai!”
“Tem os cabelinhos do pai, mas é a cara da mãe!”
“Príncipe Gui!”
“Mã-mã.”
Pelo filho, descubro que envelheço. Mas, por ele, não quero morrer.

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